Alerj deve decidir sobre prisão de Bacellar; aliados planejam sessão extraordinária para votação
Rodrigo Bacellar é preso pela PF por suspeita de vazamento de informações de operação da prisão de TH Joias A Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) deve d...
Rodrigo Bacellar é preso pela PF por suspeita de vazamento de informações de operação da prisão de TH Joias A Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) deve deliberar sobre a prisão do presidente da Casa, o deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil). O parlamentar foi detido nesta quarta-feira (3) pela Polícia Federal (PF) na Operação Unha e Carne. Segundo a PF, Bacellar é suspeito de ter vazado informações sigilosas da Operação Zargun, deflagrada em setembro, em que o então deputado estadual TH Joias foi preso. A TV Globo apurou que a direção da Alerj teve acesso à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e que caberá aos deputados a palavra final sobre a prisão de Bacellar. Segundo as constituições federal e estadual, a Justiça tem até 24 horas para notificar o Legislativo sobre a prisão. A expectativa é que a notificação só chegue na manhã desta quinta-feira (4). 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça Outras votações Deputados decidem pela soltura e devolução dos cargos de Picciani, Albertassi e Paulo Melo Essa pode ser terceira vez que a Alerj vota sobre a prisão de deputados, e a segunda em que decide sobre a prisão de um presidente em exercício. Em novembro de 2017 a Casa soltou Jorge Picciani, na época presidente da Alerj, preso na Operação Cadeia Velha, braço da Lava Jato. Também foram beneficiados os parlamentares Paulo Melo e Edson Albertassi. Alerj decide soltar cinco deputados presos numa operação da Lava Jato Já em 2019, a Alerj soltou cinco deputados presos na Operação Furna da Onça, em mais um desdobramento da Lava Jato no Rio. Por 39 votos a 25, os parlamentares aprovaram o projeto de resolução para libertar: André Correa (DEM) Chiquinho da Mangueira (PSC) Luiz Martins (PDT) Marcus Vinicius Neskau (PTB) Marcos Abrahão (Avante) Um dos deputados que votaram pela libertação dos colegas foi Rodrigo Bacellar, na época no partido Solidariedade. Próximos passos Caso siga o mesmo rito das últimas duas votações, a comunicação do STF sobre a prisão de Bacellar deverá ser analisada pela Comissão de Constituição e Justiça. A CCJ, presidida pelo deputado Rodrigo Amorim (União) , um dos aliados mais próximos de Bacellar, deverá emitir parecer pela manutenção ou relaxamento da prisão. Votam os sete deputados da CCJ. O parecer é levado à votação pelos 70 deputados em plenário. Para que a prisão seja revogada, são necessários pelo menos 36 votos, ou seja, a metade mais um do total de cadeiras da Alerj. Deputados ligados a Bacellar ouvidos pela TV Globo disseram que a ideia é fazer uma sessão extraordinária para votar a prisão assim que a comunicação oficial chegar à Alerj. 'Organização criminosa' 'Vão roubar as carnes', disse TH Joias a Bacellar antes de ação da PF Na decisão que determina a prisão de Bacellar, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que há "fortes indícios" da participação de Bacellar em uma organização criminosa. Segundo trecho da decisão obtida pelo g1 e pela TV Globo, ele estaria atuando ativamente pela "obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo Estadual". O Blog do Octavio Guedes mostrou que, na tarde de 2 de setembro, véspera da Operação Zargun, Bacellar ligou para TH Joias, avisou que haveria mandados contra ele e o orientou a destruir provas — o ourives chegou a organizar uma mudança e usou até um caminhão-baú para isso. O g1 apurou que Bacellar foi preso dentro da Superintendência da PF no Rio, na Praça Mauá, após “ser convidado” para uma “reunião” pelo próprio superintendente, Fábio Galvão. O presidente da Alerj recebeu voz de prisão tão logo chegou — e seu celular foi apreendido. “Os fatos narrados pela Polícia Federal são gravíssimos, indicando que Rodrigo Bacellar estaria atuando ativamente pela obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo estadual, capazes de potencializar o risco de continuidade delitiva e de interferência indevida nas investigações da organização criminosa”, escreveu Moraes. A Alerj informou que ainda não foi comunicada oficialmente sobre a operação ocorrida nesta manhã e "assim que tiver acesso a todas as informações, irá tomar as medidas cabíveis." Até a última atualização desta reportagem, a defesa de Bacellar não tinha se manifestado. TH Joias e Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj Divulgação TH Joias saiu de casa e deixou tudo revirado A suspeita de vazamento havia sido levantada no próprio dia da Operação Zargun pelo procurador-geral de Justiça do RJ, Antonio José Campos Moreira. Ele afirmou na ocasião que “houve uma certa dificuldade” para achar TH. “O parlamentar havia saído do condomínio por volta das 21h40 [de terça, 2, véspera da operação], deixando a casa completamente desarrumada, o que pode sugerir uma fuga e o desfazimento de vestígios de fatos criminosos”, declarou. TH de fato não estava em casa, na Barra da Tijuca, quando as equipes chegaram, e só foi encontrado horas depois na residência de um amigo, no mesmo bairro. Buscas na Alerj Moraes também expediu 8 mandados de busca e apreensão, e um dos endereços era o gabinete de Bacellar na Alerj. Houve ainda outro mandado de intimação para cumprimento de medidas cautelares diversas da prisão. A ação desta quarta, explicou a PF, se insere no contexto da decisão do STF no âmbito do julgamento da ADPF das Favelas, que, dentre outras providências, determinou que a corporação conduzisse investigações sobre a atuação dos principais grupos criminosos violentos em atividade no estado e suas conexões com agentes públicos. LEIA TAMBÉM Quem é Rodrigo Bacellar Veja a lista de deputados que já foram para a cadeia Bacellar avisou TH Joias por telefone e o orientou a destruir provas TH Joias e Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj Divulgação Relembre a prisão de TH Joias Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, foi preso no dia 3 de setembro por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, suspeito de negociar armas e acessórios para o Comando Vermelho (CV). TH era 2º suplente e assumiu em junho do ano passado, após a morte de Otoni de Paula Pai e a recusa de Rafael Picciani em herdar essa cadeira na Alerj — ele saiu para compor o secretariado do governador Cláudio Castro (PL). Mas bastou Picciani retomar a vaga para que TH perdesse o cargo — Castro exonerou Picciani da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer e o mandou de volta à Alerj. TH Joias foi alvo de 2 operações simultâneas, de investigações convergentes. Uma cumpriu mandados expedidos pela Tribunal Regional Federal; outra, pelo Tribunal de Justiça do RJ. A PF diz ter identificado “um esquema de corrupção envolvendo a liderança da facção no Complexo do Alemão e agentes políticos e públicos”. Para o MPRJ, TH utilizou o mandato para favorecer o Comando Vermelho, inclusive nomeando comparsas para cargos na Alerj. Pela Operação Zargun — cujo suposto vazamento levou à operação desta quarta-feira —, a PF saiu para cumprir 18 mandados de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão, além do sequestro de bens no total de R$ 40 milhões, expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). A investigação foi da Delegacia de Repressão à Entorpecentes (DRE), da PF, e do Ministério Público Federal. Investigações identificaram um esquema de corrupção envolvendo TH, chefes do CV e outros agentes públicos, incluindo um delegado da PF, policiais militares e ex-secretários. “A organização infiltrava-se na administração pública para garantir impunidade e acesso a informações sigilosas, além de importar armas do Paraguai e equipamentos antidrone da China, revendidos até para facções rivais”, afirmou a PF. Os alvos respondem por organização criminosa, tráfico internacional de armas e drogas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. Já pela Operação Bandeirante, a Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou TH e outras 4 pessoas pelos crimes de associação para o tráfico de drogas e comércio ilegal de armas de fogo de uso restrito. A investigação foi da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio e ao Tráfico de Armas da Polícia Federal (Delepat). De acordo com a denúncia, os acusados mantinham vínculos estáveis com o Comando Vermelho, atuando nos complexos da Maré e do Alemão e em Parada de Lucas. O grupo é acusado de intermediar a compra e venda de drogas, armas e equipamentos antidrones usados para dificultar operações policiais nos territórios ocupados pela organização, além de movimentar grandes somas em espécie para financiar as atividades da facção. A ação penal proposta pelo procurador-geral de Justiça do RJ, Antonio José Campos Moreira, obteve, junto ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), 4 mandados de prisão e 5 de busca e apreensão, cumpridos em endereços na Barra da Tijuca, Freguesia e Copacabana. O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil) Divulgação